25.4.01

Hoje fui consultar um dicionário antes de sair de casa e - devido às precárias condições de armazenagem de minhas coisas - um livro me atacou: "Cidades Invisíveis", de Italo Calvino. Comecei a dar uma olhada e acabei me batendo com um dos textos do livro que mais gosto:

"As Cidades Delgadas 5

Se quiserem acreditar, ótimo. Agora contarei como é feita Otávia,
cidade-teia-de-aranha. Existe um precipício no meio de duas
montanhas escarpadas: a cidade fica no vazio, ligada aos dois cumes
por fios e correntes e passarelas. Caminha-se em trilhos de madeira,
atentando para não enfiar o pá nos intervalos, ou agarra-se aos fios
de cânhamo. Abaixo não há nada por centenas e centenas de metros:
passam algumas nuvens; mais abaixo, entrevê-se o fundo do
desfiladeiro.

Essa é a base da cidade: uma rede que serve de passagem e
sustentáculo. Todo o resto, em vez de se elevar, está pendurado
para baixo: escadas de corda, redes, casas em forma de saco, varais,
terraços com a forma de navetas, odres de água, bicos de gás,
assadeiras, cestos pendurados com barbantes, monta-cargas,
chuveiros, trapézios e anéis para jogos, teleféricos, lampadários,
vasos com plantas de folhagem pendente.

Suspensa sobre o abismo, a vida dos habitantes de Otávia é menos
incerta que a de outras cidades. Sabem que a rede não resistirá
mais que isso."

Existem outros pedaços que gosto tanto quanto esse, mas que não estavam convenientemente já digitados.(RSF)